10 de dezembro de 2012

All you need is love

Postado por Bruh C às 13:46


Eu saí de casa quando ainda era muito imatura. Fui fazer faculdade do outro lado do mundo, dos Estados Unidos para Inglaterra. Tinha só 18 anos quando fiz essa grande mudança em minha vida.

Minha família não gostou muito da ideia, é claro, mas era algo que eu precisa fazer por mim. Vivi minha vida inteira embaixo da asa dos meus pais, me defendiam de tudo, e me mimavam demais. Algumas pessoas iriam amar isso, mas não eu. Eu sentia como se tivesse usando-os, abusando da boa vontade. E eu queria viver por minha conta, errar pra depois acertar, aprender coisas diferentes e conhecer lugares novos.

Não sei se minha mãe me perdoou ainda por isso, ela sempre falava que eu estava a abandonando. Muito disso era drama, mas sabia que uma parte dela realmente se sentia assim. Mas eu prometi que voltaria como fiz muitas vezes durante minhas férias e feriados prolongados.

Hoje eu já estava formada e morava há quatro anos em Londres, uma cidade encantadoramente inspiradora que eu conhecia como a palma da minha mão, mas que ainda me reservava muitas surpresas. Como ele.

***

28 de abril de 2011

Eu sempre gostei de quem assovia canções por ai, pareciam relaxados e agiam como se tivessem recebido uma boa notícia. Meu pai estava sempre assoviando, tentou me ensinar uma vez, mas foi um fracasso, acho que o fato de eu nunca ter conseguido fazer uma coisa dessas também me deixava mais admirada.

Estava sentada no Hyde Park, lendo um dos meus inúmeros romances, quando um velhinho passou assoviando por mim. Ele estava de mãos dadas com sua esposa, passeando por ai, apenas apreciando a vista. Não pude evitar sorrir e logo em seguida peguei meu caderno e comecei a escrever.

All you need is love ele assoviava para a bela moça ao seu lado, como quisesse dedicar a ela aquela bela melodia...”

Podia passar horas escrevendo sem me cansar, horas imaginando histórias, muitas vezes absurdas, algumas com super heroínas, outras comigo no papel principal.

Olhei no meu relógio, 15:00, estava atrasada. Levantei do banco correndo, virando com tudo e sem olhar.

“Ah, que merda”. Tarde demais, o café já estava todo entornado em sua camiseta.

“Me desculpa, ai meu Deus, me desculpa”. Será que estava quente? Ai Deus, tomara que não.

Não olhei para seu rosto por pura vergonha. Alexis, a atrapalhada ataca de novo. Eu realmente deveria começar a olhar por onde eu ando, ou pelo menos andar mais devagar. Eu evitaria muitos acidentes como este.

“Ah, sempre um café entre a gente”. Não entendi a frase, enquanto tentava inutilmente limpar sua camiseta, mas não resisti e olhei para cima. E lá estava ele. O rapaz do café. Seus olhos verdes me olhavam divertidos e com certa expectativa. Ele passou a mão pelos cabelos loiros parecendo nervoso.

“Olha, mil desculpas, isso deveria estar quente”.

“Para sua sorte, café quente a esta hora do dia me dá insônia. Isso é chá gelado.”

“Bom, vai deixar uma mancha. Eu te pago outra camiseta.”

“Isso não será necessário. Estará kit comigo se me disser o seu nome.”

“Prefiro me manter no anonimato.”

Não, não tente, por favor. Apenas siga com sua vida e não me queira nela.

“Misteriosa. Gosto disso”.  Ele me lançou um sorriso torto que me fez sorrir também.

“É, grande fã de Sherlock Holmes.” Dei a volta nele e comecei a me afastar.

Não olhe para trás, não olhe!

De repente um assovio corta o ar no parque, alto e imponente, não resisto e olho tentando achar a fonte do ruído. Adivinha?

“Agora que tenho sua atenção, você ainda me deve pela camiseta, ou pelo menos me deve um café.”

“Você disse que era chá gelado.”

“Ótimo, te encontro aqui as oito”.E com isso ele me dá as costas e sai andando.

E lá estava, All you need is love, sendo assoviada por aquele irritante rapaz.




2 comentários:

  1. Muito legal seus textos, tô começando a ficar curiosa com essa historia.
    Bjos e parabéns!!!!!

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  2. Ah, que delícia ler esse texto!! Parabéns, Bruh!! =)

    Beijo!!

    Ju
    Entre Palcos e Livros

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